domingo, 18 de janeiro de 2009

Memorial da resistência - Reelaborar a mémoria ou esquece-lá?

entrega do premio wladimir herzog de direitos humanos, tuca 2008


são paulo, capital dos museus e centros culturais, ganhou mais um centro mas dessa vez com uma proposta diferente, a saber, recuperar a históris daqueles que se opuseram aos regimes não democráticos, àqueles que usurparam a liberdade inerente de cada ser humano neste país.

localizado em belo prédio, ao lado da famosa estação julio prestes, o antigo deops será agora local de recuperação da frágil mémorial barsileira acerca de acontecimentos obscuros do arbítrio histórico nacional.

No momento em que o re-surgimento do assunto sobre a ditadura civil-militar trás calorosos e rancorosos debates, vale a pena mergulhar nessas águas turvas e ver o que se pode enchegar entre elas.

o título desta postagem faz alusão a construção desse memorial mas também nos remete, propositalmente, a um texto da professora jeanne marie, titula da filosofia da puc e livre docente da unicamp, que foi publicado no site da revista trópicos. ver http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2817,1.shl. trata-se de uma carta-resposta-artigo que foi enviada a folha e infelizmente não foi publicada por este jornal. Por que será?

jeanne marie trata do espinhoso assunto que compreende o período da ditadura cívil-militar brasileira (1964-1985) mais exatamente sobre a questão da nossa memória deste funesto episódio da história tupiniquim. Diz que relembrar tal momento não é exatamente mexer em feridas "fechadas" do passado, apenas um saudosismo vingativo, mas antes, o momento, ja mais que depurado, de se re-pensar essa parte de nossa história, de ver o que pode ser feito, restaurado - reparado. ou seja, relembrado, julgado e reparado, não apenas para as vítimas diretas deste obscuro período mas tambem para a sociedade brasileira em geral. é o famoso direito a mémoria e a verdade! que tem sido tão levantado em nosso páis, com vinte anos de atraso, já há alguns anos.

as famílias que não têm hoje em seu braço os filhos mortos pelos agentos do estado brasileiro, que não sabem nem se quer o paradeiro de seus corpos; aqueles que tem seus corpos, mas impressos em marcas de torturas eternas; aquelas que foram mortas em falso sucídio, todos que perderam seus empregos, que tiveram que fugir; aqueles tantos que fizeram o que não queriam ter feito.

é por todos esses, e aqueles, não ditos ainda, que temos que re-fundar o modo como olhamos o golpe militar de 64 e seus tenebrosos desdobramentos para nossa frágel sociedade latinoamericana-brasileira.

desse modo é interessante se dirigir até o antigo prédio do deops, lugar de tortura e mortes sistemáticas perpretadas pelo estado barsileiro, hoje transformado em memorial da resistência. podemos entrar em contato com a memória das resistências no brasil, aqueles que não se calaram de ante da afronta a sua liberdade desde o período novo, de getúlio vargas até nossa última ditadura.

Para melhor divulgar, repuduzo abaixo artigo da agencia de notícias brasil de fato esta semana. http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia . boa leitura


Para que não se esqueça, jamais

por Michelle Amaral da Silva última modificação 28/01/2009 15:35
Prédio onde funcionava centro de tortura vira museu de resgate da história de presos políticos

28/01/2009
Jonathan Constantino,
de São Paulo (SP)

Após cerca de um ano e meio de luta e pressão do Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo junto ao Governo do Estado, foi reinaugurado, no último 24 de janeiro, o Memorial da Resistência, antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo (Deops/SP).

Após reforma, o memorial reabre com uma nova concepção museológica para preservação da memória “de milhares de combatentes, que nunca aceitaram a opressão das classes dominantes e seus instrumentos ditatoriais”. De acordo com o jornalista Ivan Seixas, diretor do Fórum, “resgatar este velho prédio e transformá-lo num símbolo de resistência é a manifestação de quem luta pela democracia e não quer esconder nossa história. E nem apagar as pistas de sangue deixadas por carrascos impunes até os dias de hoje”.

Reconstituição das celas

Com a pressão realizada pelo Fórum, conseguiu-se a mudança do nome do Memorial e a realização de uma significativa reforma. Em agosto de 2007, foi apresentado o projeto de remodelamento, e sua implantação iniciou-se em agosto de 2008.

Na reforma foram reconstituídas celas, a fim de apresentar as reais condições a que os presos eram submetidos. Com ajuda de ex-presos, também foram refeitas inscrições nas paredes para resgatar as frases de resistência e solidariedade que haviam sido apagadas. Também foram instalados equipamentos audiovisuais por meio dos quais os visitantes podem informar-se sobre o que foi o espaço.

Na avaliação de Seixas, para cumprir seu papel histórico e didático, o Memorial deve ter um destino militante. “Projetos e programações devem sensibilizar a sociedade sobre a importância da luta pela Anistia, a Justiça de Transição e os Direitos Humanos para a Democracia. Para nós do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos, o objetivo maior é completar a transição democrática, consolidar e aprofundar a democracia”, salientou.

Sem precedentes

Segundo Kátia Filipini, museóloga da Estação Pinacoteca do Estado “não temos conhecimento de nenhum outro projeto do tipo, no Brasil. O que sabemos é que há um museu na Argentina, ligado à Escola Superior de Mecânica da Armada (Esma), e que no Chile há um projeto em implantação”.

Sobre a importância do Memorial como instrumento de preservação e resgate da memória, ela afirma que “o museu é uma boa tentativa nessa luta e, como seu foco principal é a Ação Educativa e Cultural, desde já estão em projeto seminários, debates e palestras para contribuir nesse sentido”.

De acordo com o secretário da cultura, João Sayad, presente à solenidade de inauguração, a recaracterização do Memorial deveria ter sido ainda mais dramática, para retratar melhor o que foi aquele período. Para ele, o modo como as celas haviam sido apresentadas na última reforma, assemelhavam-se mais a salas confortáveis de um hotel. Estiveram presentes à solenidade de inauguração o governador do Estado de São Paulo, José Serra, e os secretários da Cultura, João Sayad, e da Justiça e Defesa da Cidadania, Luiz Antônio Marrey, o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, que representou o ministro da Justiça, Tarso Genro; o diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Araújo, e Rogério Sottili, representando o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, além de Raphael Martinelli que, juntamente com Ivan Seixas falou em nome do Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo.

Histórico

Localizado no Largo Manoel Osório, próximo à estação Luz da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o prédio onde hoje funciona a Estação Pinacoteca, anexo da Pinacoteca do Estado, foi projetado em 1914 por Ramos de Azevedo, destinado a ser um armazém para a Ferrovia Sorocabana.

Porém, em 1949, durante o governo do General Eurico Gaspar Dutra, o Deops/SP, criado 25 anos antes com a finalidade de combater os movimentos sociais e outras manifestações originárias de “ideologias exóticas”, como o anarquismo e o sindicalismo, é transferido para o prédio do antigo armazém. Assim, passa a ser o cenário sombrio no qual se desenrolaram diversos atentados de lesa-humanidade, amplificados durante a ditadura civil-militar de 1964-1984.

Inaugurado em 2002 com o nome de Memorial da Liberdade, o atual Memorial da Resistência passou por inúmeros processos de transformação, o que acarretou a descaracterização do prédio. Foram destruídas duas celas, localizadas no térreo, e chamado “Fundão”, que era formado por antigas celas reforçadas, que funcionavam como solitárias. Além disso, o espaço recebeu pinturas modernas e sofisticadas, foram destruídos os banheiros que eram utilizados pelos presos e raspadas inscrições deixadas nas paredes das celas por presos políticos de diversas gerações.

As reformas e nome atribuído ao Memorial, então, desencadearam o descontentamento de grupos ligados às vítimas da violência durante a ditadura militar, de modo especial o Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo.

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